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Será que o pescado capturado pela pesca de arrasto de fundo é sustentável? Sabe mais sobre este método de pesca e como pode ser reduzido o seu impacto no oceano.

O que é a pesca de arrasto de fundo?

 

A pesca de arrasto de fundo - ou demersal - é um método de pesca que utiliza redes rebocadas para capturar peixes e outras espécies marinhas que vivem no leito do mar ou perto dele.

A pesca de arrasto de fundo inclui vários tipos diferentes de artes de pesca que utilizam uma rede em forma de cone com uma extremidade fechada (saco) que retém as capturas. A rede é rebocada por um ou dois barcos e pode ser mantida aberta por portas de arrasto ou por varas metálicas. Estes dispositivos entram frequentemente em contacto com o fundo do mar.

 

Bottom trawl demersal trawl illustration

Que espécies são capturadas pela pesca de arrasto pelo fundo?

Muitas espécies habitualmente consumidas podem ser capturadas com redes de arrasto pelo fundo. Estas incluem peixes brancos como o bacalhau, a arinca, a hoki e a pescada, além de peixes chatos como o alabote e o linguado. Os camarões, as gambas e as lulas também podem ser capturados através deste método.

Porque é que as pescarias utilizam artes de arrasto pelo fundo?

 

A pesca de arrasto de fundo é uma forma eficiente de capturar grandes quantidades de peixe e marisco que vivem no fundo do mar, necessários para alimentar uma população mundial em crescimento. Cerca de um quarto de todo o marisco selvagem é capturado por este método todos os anos.

O peixe é uma importante fonte de alimentos nutritivos, sendo que mais de 3 mil milhões de pessoas dependem dos nossos oceanos para obter uma importante fonte de proteínas e outros nutrientes, como os ácidos gordos ómega 3, o ferro e a vitamina B12.

 

Hoki fishers with crates of fish seen from above

Hoki trawl haul, New Zealand

A pesca de arrasto de fundo é prejudicial?

 

As artes de arrasto pelo fundo entram em contacto com o fundo do mar, o que pode causar danos aos habitats e aos organismos marinhos que aí se encontram se as actividades de pesca não forem bem geridas.

Como os habitats do fundo do mar variam ao longo do oceano, o impacto da pesca de arrasto pelo fundo depende do tipo de habitat encontrado e das espécies presentes. Os habitats que contêm espécies frágeis, de vida longa ou de crescimento lento, como os corais, esponjas ou outros organismos marinhos similares, são particularmente vulneráveis e não devem ser objeto de arrasto, pois podem não conseguir recuperar.

No entanto, alguns habitats são mais resistentes, como os fundos marinhos arenosos ou lodosos em águas pouco profundas que são regularmente expostos a perturbações provocadas por ondas fortes e tempestades.

A pesca de arrasto de fundo está também associada a elevados níveis de capturas indesejadas - ou capturas acessórias - uma vez que as redes utilizadas podem ser pouco selectivas. Esta situação pode levar à captura acidental de espécies não-alvo ou de peixes juvenis ou de tamanho inferior ao regulamentar. É importante que estes impactos sejam cuidadosamente geridos e reduzidos através de medidas como a modificação das artes de pesca para melhorar a seletividade.

 

Pode o impacto da pesca de arrasto de fundo ser reduzido?

Os danos causados aos habitats podem ser prevenidos evitando o arrasto de fundo em zonas com habitats mais sensíveis.

Cartografias do fundo do mar e dados de campanhas para mapear habitats são utilizados para detectar áreas que contêm habitats e espécies sensíveis e identificar onde a atividade de pesca se sobrepõe, utilizando dados de monitorização e seguimento de embarcações (VMS). Isto permite que as pescarias evitem estas áreas e adaptem as suas práticas para minimizar o impacto de quaisquer interacções.

As zonas que contêm habitats mais sensíveis podem ser totalmente interditas à pesca. Os encerramentos são frequentemente introduzidos pelos governos ou pelas autoridades regionais de gestão das pescas, ou as pescarias podem decidir encerrar regiões voluntariamente. Por exemplo, a frota de arrasto escocesa fechou imediatamente uma zona às suas embarcações, na sequência da descoberta de fundos marinhos vulneráveis, em vez de esperar que a região fosse designada como zona marinha protegida.

Podem ser tomadas medidas para proteger as regiões não arrastadas da pesca de arrasto pelo fundo. A pesca de arrasto da pescada-do-cabo na Áfica do Sul "congelou" voluntariamente a sua pegada de arrasto em 2007 e só pode operar em zonas específicas que já tenham sido objeto de arrasto. Concordar em operar dentro destes limites é agora uma condição para obter uma licença de pesca.

Os impactos nos habitats também podem ser reduzidos através da modificação das artes utilizadas e da forma como são operadas. Isto pode incluir a limitação do peso e do tamanho das artes e a diminuição do número de pontos de contacto entre as artes e o fundo do mar. Por exemplo, podem ser acrescentados discos ou bolas de borracha às cordas que são puxadas através do fundo do mar de cada lado da arte de pesca.

 

Close-up of hanging nets with bars for turtle exclusion

Turtle exclusion devices, Northern Prawn fishery, Australia

Como as pescarias de arrasto de fundo podem reduzir as capturas acessórias?

Muitas pescarias modificam as suas artes de pesca para reduzir as capturas acessórias. É também fundamental compreender quais as espécies não-alvo que correm o risco de ser capturadas e como evitá-las.

Os dispositivos de redução das capturas acessórias são uma forma eficaz de permitir que as espécies grandes ou indesejadas escapem às redes de arrasto. Muitas pescarias de camarão de águas frias - como a pesca de arrasto de camarão, no Canadá - reduziram as capturas indesejadas de peixes de fundo, como o bacalhau e a arinca, acrescentando às redes de arrasto um dispositivo de exclusão semelhante a uma grelha (a "grelha Nordmore"). Estes dispositivos impedem que os peixes entrem no saco (embora permitam a passagem dos camarões mais pequenos) e canalizam-nos para um orifício de fuga no topo da rede.

A utilização de dispositivos de exclusão também eliminou praticamente as capturas acessórias de tartarugas na pesca australiana do camarão do Norte. Esta pescaria está também a realizar investigação para compreender como e quando ocorrem as capturas acessórias de peixe-serra e identificar novas formas de as reduzir.

 

A pesca de arrasto de fundo pode ser sustentável?

 

As pescarias com artes de arrasto de fundo podem ser certificadas como sustentáveis se cumprirem os requisitos do Padrão de Pesca do MSC e passarem uma avaliação completa efetuada por uma entidade independente.

As pescarias que utilizam artes de arrasto de fundo só podem obter a certificação MSC se puderem demonstrar que não causam danos graves ou irreversíveis aos habitats do fundo do mar e à biodiversidade.

Durante uma avaliação, as pescarias devem fornecer provas que demonstrem que existe um conhecimento dos habitats encontrados e do impacto da atividade de pesca. Isto pode incluir mapas do fundo marinho e cartografias para identificar os diferentes habitats e os locais onde a pesca se sobrepõe.

As pescarias devem evitar a utilização de artes de arrasto em zonas onde tenham sido encontrados habitats sensíveis. No entanto, se houver a possibilidade de as artes de pesca interagirem com esses habitats, as pescarias terão de demonstrar que estão a ser aplicadas medidas precaucionárias eficazes.

A pescaria deve também fornecer provas quantificáveis que demonstrem que os impactos nas espécies ameaçadas, em perigo e protegidas (ETP) e nas espécies fora do âmbito de aplicação do Padrão MSC (aves, mamíferos, anfíbios e répteis) estão a ser geridos e minimizados de forma eficaz. Devem igualmente ser adoptadas medidas para evitar a perda de artes e reduzir o impacto que qualquer arte perdida possa ter no ambiente marinho.

 

Quais as melhorias das pescarias com a certificação do MSC.

Quais as melhorias das pescarias com a certificação do MSC.

Para além de pescar populações saudáveis, as pescarias devem demonstrar que estão a gerir os seus impactos nos habitats e noutras espécies marinhas.

Como é que a certificação MSC promove melhorias na sustentabilidade?

 

A certificação MSC incentiva as pescarias de arrasto de fundo a reduzir o seu impacto no meio marinho. Não basta às pescarias implementar melhorias para cumprir o nosso Padrão, muitas têm de continuar a melhorar para manter a certificação. 

Desde 2017, as pescarias de arrasto de fundo efetuaram 123 melhorias para compreender melhor os impactos das suas artes nos habitats e ecossistemas, - e como reduzi-los - incluindo a realização de estudos do fundo do mar e o desenvolvimento de mapas para que os ecossistemas vulneráveis possam ser evitados. Foram também efectuadas mais de 90 melhorias para reduzir os impactos nas espécies em perigo, ameaçadas e protegidas, como a modificação das artes para reduzir capturas acidentais (bycatch).