Hoje muitos de nós devíamos ter amanhecido em Lisboa. Provavelmente em algum evento da Conferência dos Oceanos das Nações Unidas ou a preparar-nos para regressar a casa após vários dias de encontros.
A realidade é que amanheci em Madrid. Há vários meses que não se realizam eventos e as ligações online são já um hábito. O lado positivo desta possibilidade é que os temas continuam a ser abordados e este ambiente virtual facilita a que mais pessoas participem nos debates, workshops e ações de formação sobre os mais diversos temas.
8h00 – Chego ao escritório, vim aqui apenas duas vezes durante o confinamento. Tudo está como antes, embora quando voltarmos, teremos que o fazer de uma forma muito diferente. A vida no bairro começa a ressurgir e vejo com alegria que os bares levantam as persianas e aumentam as esplanadas.
Chega o nosso responsável de pescarias, Alberto Martín, por várias circunstâncias há quatro meses que não nos vemos, e cumprimentamo-nos à distância. Fico feliz por vê-lo pessoalmente.
10h00 – Tem início o seminário que organizámos com a APIA (Associação de Jornalistas de Informação Ambiental). Introduzo o contexto com uma séria de dados sobre os oceanos e o nosso estudo de mercado. Há boas notícias: mais de metade dos espanhóis estão a mudar os seus hábitos para apoiar a saúde dos oceanos. O Alberto comenta a melhoria das pescarias no programa MSC. Apresenta dois casos que são para nós uma referência: o polvo das Astúrias e a empresa basca Echebastar. Em seguida, o divulgador ambiental José Luis Gallego, indica a necessidade de apelar ao lado emocional, tendo em conta os dados. No MSC pensamos que os dados também atingem o coração, e ajudam a descobrir uma realidade que podemos não conhecer. O nosso embaixador Nacho Dean fala-nos das suas viagens por terra e mar e também apela à paixão como principal ferramenta para mudar atitudes. Falamos de muitas coisas e, finalmente, da importância da responsabilidade individual para cuidar do mar, não só com o consumo de peixe, mas também com atitudes de prevenção para evitar que os resíduos cheguem ao oceano. Novos apelos para o amor nos quais Cristóbal Ramirez fecha com uma frase magistral "É muito bom amar, mas às vezes também é muito bom chamar a guardia civil." Depois desta frase e das gargalhadas generalizadas, terminamos a sessão que não é mais que o arranque de um dia de maratona.
11h30 – Hoje lançámos a campanha #UmPequenoGesto #ImensoComoOMar. Dá muita alegria constatar que os conteúdos da campanha são partilhados através das diferentes redes sociais em todos os países em que o MSC está presente. Em Espanha, mais de 20 empresas parceiras partilham o vídeo e conteúdos personalizados em que cada organização adaptou o estilo da campanha ao seu próprio estilo de comunicação. Em Portugal, também várias empresas partilham os seus conteúdos e pela primeira vez começámos a ter um movimento significativo nos perfis em português nas nossas redes sociais.
12h30 – Trouxe um metro e em conjunto com o Alberto, medimos a distância entre as mesas. Felizmente, cumprimos os 1,5 m de distância exigidos entre os postos de trabalho, embora tenhamos de fazer algumas alterações para preparar o regresso ao escritório.
13h00 – Unimo-nos à apresentação online do novo relatório SOFIA da FAO. Há uma grande expectativa. Milhares de pessoas juntaram-se de diferentes partes do mundo. Emociona ler todas as boas vindas no chat da sessão, de tantas pessoas interessadas no estado das pescarias. Esperava sinceramente que este relatório começasse a mostrar uma mudança na tendência das pescarias subexploradas. Nos últimos dez anos houve progressos significativos, mas claramente insuficientes. Manuel Barange é muito claro nas principais mensagens: melhorar a gestão é a única forma de assegurar uma pesca sustentável. Temos que empoderar as mulheres. Acelerar a ação.
As mensagens foram diretas. É necessário reforçar a colaboração e assumir as mudanças necessárias de forma mais corajosa.
14h00 – Muito movimento nas redes sociais. Não há tempo para ler toda a informação interessante que as diversas entidades estão a publicar. O IEO (Instituto Espanhol de Oceanografia) recorda que sem investimento na ciência não há nada para celebrar, uma chamada de atenção de uma instituição muito prestigiada que passa por enormes dificuldades para poder fazer o seu trabalho. Outras comunicações focam-se em destacar a beleza e interdependência dos seres humanos com os oceanos. No entanto, vejo nos trending topics uma menção a um youtuber e uns sapatos. O #DiaMundialDosOceanos aparece como tendência no Twitter!
14h15 – A entrevista Españoles en la Mar, de um programa da rádio RTVE é dos poucos programas especializados em temas marinhos e é sempre um prazer ter a oportunidade de partilhar as nossas notícias com a sua audiência.
16h00 – Mais empresas partilham conteúdos sobre a campanha nas suas redes e vários meios de comunicação ecoam o nosso estudo de mercado, bem como vários dos nossos Embaixadores Azuis. Em Portugal, o comunicado de imprensa teve especial repercussão, uma vez que um dos dados do estudo indica que 42% dos portugueses receiam que o bacalhau desapareça até 2040, felizmente não tem de ser assim se as pescarias continuarem a ser geridas de forma adequada. É a primeira vez que temos dados sobre as atitudes dos consumidores em Portugal e os resultados em termos de mudança de hábitos de consumo para proteger os oceanos são muito encorajadores.
18h30 – O meu primeiro live no Instagram. Os meus colegas de comunicação desafiam-me com novos formatos, e tenho que aprender a toda a velocidade. Nem sei como entrar no live, mas o Álvaro com muita paciência guia-me através do WhatsApp. A minha primeira conversa é com @saludableconpatri, a Patri tem uma conta especializada sobre nutrição saudável. Há algumas semanas, desafiou os seus mais de 11.000 seguidores para comer Ómega 3 consumindo mais peixe. Temos uma conversa muito agradável em que me faz perguntas sobre a pesca sustentável e o consumo de peixe. A conversa abre-se a perguntas dos seus seguidores e tenho o prazer de poder falar sobre o nosso trabalho com pessoas tão motivadas e interessadas em alimentar-se bem.
19h30 – Segundo live no Instagram. Desta vez a conversa é com a Diana Rodriguez, embaixadora do MSC. A Diana é jornalista de viagens e, na sua conta, @funtravelven partilha as suas experiências por todo o mundo. A Diana está muito empenhada no nosso trabalho e há alguns meses veio a conhecer uma das pescarias que integra o projeto Medfish. Falamos animadamente e surpreende-me que, a esta hora, as pessoas continuem a juntar-se ao direto. Após a nossa conversa, entrará em direto a Chef Tita, também embaixadora do MSC e uma prestigiada chef da República Dominicana amante de pescado e apaixonada pela proteção do mar.
20h00 – Desligo o computador, apaga-se a ligação com o mundo. Vou no caminho habitual para casa, que costumava fazer diariamente e agora muito ocasionalmente. É triste ver que nem todas os negócios sobreviveram a estes três meses de confinamento.
21h00 – Vejo o Telediario de La 1 com curiosidade para ver que notícias dos oceanos vão destacar. Os oceanos entram na secção de desporto... Vários surfistas expressam como é importante proteger o mar. Novas formas de comunicar a importância do mar e dos oceanos.
Vou dormir com sensações agridoces. Um dia muito intenso e satisfatório, embora não possa evitar a sensação de que todos os que trabalhamos para a sustentabilidade dos oceanos, vivemos numa bolha: só reforçando a colaboração podemos quebrá-la e fazer dos oceanos uma prioridade de todos os dias do ano.
Laura Rodríguez Zugasti
Diretora do MSC Espanha e Portugal
PS: obrigada à equipa do MSC Espanha e Portugal cujo esforço e profissionalismo tornaram possível todas as ações ao longo deste dia: Asun Talavera, Álvaro del Busto, Jorge Gallego, Alberto Martín, Julio Agujetas, Alberto Garazo e Rodrigo Sengo e à equipa de global comunicação do MSC.