Organização MSC sem fins lucrativos lança nova edição do relatório sobre o atum sustentável
Lisboa, 3 de maio 2024. – O volume de atum vendido com o selo azul do Marine Stewardship Council (MSC) aumentou quase 10% em termos anuais, passando de 196 363 toneladas em 2022-23 para 217 300 toneladas em 2023-24, de acordo com dados do MSC. O volume de vendas aumentou até cerca de 60% nos dois anos desde 2020-21, tendo as vendas globais ascendido apenas a 137 600 t.
A maior parte do atum com o selo do MSC é em conserva, mas os dados também incluem as vendas de atum fresco, congelado, em refeições prontas ou em alimentos para animais de estimação.
O atum em conserva é uma fonte nutritiva e acessível de proteínas e ácidos gordos ómega-3, sendo desde há muito um alimento básico nas nossas despensas. Com o aumento do custo de vida em todo o mundo, muitos influencers especializados em gastronomia económica, ou “tinfluencers”, recorreram ao atum em conserva para apresentar receitas que vão desde massas, tostas, saladas a salteados.
O aumento considerável das vendas de atum com certificação do MSC mostra que a garantia de sustentabilidade dos produtos do mar continua a ser uma prioridade para os consumidores, apesar da pressão sobre os orçamentos familiares.
Luciano Pirovano, Diretor de Sustentabilidade da Bolton Food & Tri Marine, afirmou: “A tendência é clara. A sustentabilidade está a tornar-se um elemento-chave do valor global da marca e da qualidade do produto. Por isso, é uma obrigação.”
Os dados sobre as conservas de atum são revelados numa nova publicação anual do MSC. O Sustainable Tuna Yearbook apresenta uma análise fiável sobre o mercado mundial de atum sustentável. Mostra o progresso e o impacto da certificação do MSC nos oceanos, nos mercados e nas comunidades em todo o mundo. O relatório está repleto de histórias e de pormenores cruciais de pessoas que trabalham em conjunto para fazer a diferença para o planeta. Além disso, traça o perfil das principais marcas em todo o mundo que estão a impulsionar o crescimento dos produtos com o selo do MSC, mostrando que estão a corresponder às expectativas dos consumidores relativamente ao pescado sustentável.
De acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura, a quantidade total de atum capturado anualmente tem vindo a aumentar de forma constante desde a década de 1950. O seu mais recente relatório sobre o estado das pescas no mundo (SOFIA) revela que, em 2020, foram capturadas mais de 2,8 milhões de toneladas de peso vivo de gaiado e mais de 1,5 milhões de toneladas de peso vivo de atum-albacora. Está prevista a publicação de um relatório SOFIA atualizado em junho de 2024.
No final de 2023, o atum com certificação do MSC representava cerca de 33% do total das capturas mundiais. Se incluirmos as pescarias que estão envolvidas com o programa do MSC para melhorar as suas práticas, mas que ainda não estão certificadas, esse valor sobe para 53%.
Estudos que revelaram que um terço das stocks das sete principais espécies de atum são pescadas a níveis biologicamente insustentáveis levaram as Nações Unidas a declarar, em 2016, o dia 2 de maio como o Dia Mundial do Atum, para sensibilizar para o facto de as unidades populacionais de atum estarem ameaçadas por uma procura avassaladora. Desde então, muitas pescarias têm demonstrado um empenho considerável em melhorar as suas práticas para garantir a sustentabilidade do atum. O recente relatório sobre os stocks de peixes da International Seafood Sustainability Foundation revelou que 86% das capturas globais de atum provêm de unidades populacionais saudáveis.
Nicolas Guichoux, Diretor do Programa do MSC, afirmou: “Não é de surpreender que o atum em conserva seja um produto tão popular: é delicioso, é saudável e, em tempos de crise financeira, oferece uma boa relação qualidade/preço. Mas é importante que não se torne vítima do seu próprio sucesso.
Para salvaguardar o abastecimento de atum, temos de garantir que está a ser pescado de forma sustentável. Este aumento das vendas de atum de origem sustentável mostra até que ponto os consumidores estão conscientes.”
O atum é um peixe migratório, pelo que as unidades populacionais podem ser partilhadas por muitos países, que têm de chegar a acordo sobre as medidas de gestão necessárias para garantir uma pesca sustentável. Este facto pode constituir um grande desafio para as pescarias do atum e para as organizações regionais de gestão das pescas (ORGP). Por exemplo, o Pacífico Centro-Oeste alberga mais de metade dos stocks de gaiado do mundo – a espécie de atum mais popular. Os 26 países responsáveis pela pesca do atum nessa região estão atualmente em negociações de longo prazo para chegar a acordo sobre regras que garantam que os stocks de atum nunca se tornem sobre-explorados.
Mercado português
A evolução de produtos de pesca sustentável com o selo azul do MSC em Portugal tem sido de grande dinamismo. Hoje o mercado português conta com mais de 420 produtos com o selo azul (mais 133% do que em 2019), com várias espécies, categorias e marcas na liderança deste movimento azul. A verdade é que a presença de atum MSC nos pontos de venda ainda tem uma expressão reduzida (apenas 1,8% de todo o pescado possível de encontrar com o selo azul no país) e um longo caminho pela frente, mas os dados presentes neste relatório referentes a Portugal, assim como os compromissos das empresas portuguesas com o atum certificado indicam que se está a abrir um novo cenário no mercado nacional.
Portugal tem uma longa tradição na pesca e indústria atuneira. O consumo desta espécie é por isso também uma prática comum e quotidiana, sendo o atum atualmente a terceira espécie de pescado mais consumida pelos portugueses, atrás do bacalhau e pescada, com 3,3 Kg/ per capita . Está disponível em vários formatos, mas a categoria que faz entrar no pódio é o atum em conserva, não fosse o atum enlatado é uma opção prática e versátil para muitos consumidores. Em 2020, o consumo de atum enlatado aumentou globalmente, Portugal não foi exceção, devido à sua acessibilidade e estabilidade. A pandemia contribuiu para essa tendência, já que a demanda por alimentos enlatados aumentou. Em 2024, as tendências mantêm-se, as conservas continuam a registar crescimento no consumo, com os consumidores a optar por produtos do mar mais acessíveis. É interessante notar que o desenvolvimento de conservas de atum MSC também acompanhou este período e ainda que a expressão no mercado seja limita, tendo em conta a enorme variedade e oferta, já é possível encontrar conservas de atum MSC nos supermercados do Aldi Portugal, Continente e ainda com a marca A Poveira.
As conservas de atum MSC representam 30,2% do volume de toda a variedade de categorias de produtos possível de encontrar pelos consumidores, mas sabendo a dimensão desta categoria no mercado nacional, existe a necessidade de reforçar o trabalho conjunto para que oferta de atum MSC passe por todas mais categorias e marcas de conservas. O atum MSC em Portugal é vendido também nos formatos congelados, preparados e refrigerados. Para além destes formatos, também eles de conveniência para o consumidor, destacamos o atum descongelado MSC vendido pelos Hipermercados Modelo Continente, que através da sua certificação da Cadeia de Custódia, tornam possível o consumo responsável desta espécie também neste formato tão tradicional como são os balcões das peixarias.
O atum com a certificação do MSC tem também sido um crescente aliado e argumento de exportação para a exportação de conservas nacionais pelas empresas portuguesas, principalmente das conserveiras nacionais, que têm aliado à sua sabedoria e tradição no fabrico de conservas de maior qualidade, uma oferta sustentável de matéria-prima nos mercados mais exigentes do Norte de Europa, EUA e Austrália. Em 2022, no universo de 209 M€ de produção portuguesa de conservas de atum (mais 28% que em 2021), as conservas com o selo azul representam já 10 M€ de produção portuguesa de atum MSC em valor. O ano de 2022/23 observou um aumento significativo no comércio externo de atum MSC pelas conserveiras nacionais, com um aumento em volume de 340% relativamente ao ano anterior.
Numa categoria e espécie tão procurada no mercado nacional, sabemos que a origem do produto é muito importante para o consumidor, marcas e empresas. Para o mercado nacional, o atum dos Açores é muitas vezes incontornável e é por isso que felicitamos os recentes compromissos dos governos regionais dos Açores e da Madeira, relativamente à aposta de tentar obter a certificação do MSC para as suas frotas atuneiras. Acreditamos que este impulso pode mesmo ser o ponto crucial para incentivar ainda mais uma transformação no mercado nacional, e que o mercado possa reconhecer o trabalho por parte governos regionais em tentar valorizar o seu produto através da certificação sustentável mais exigente a nível mundial para as suas pescarias.
O setor dos produtos do mar tem um papel importante a desempenhar na concretização dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas e mesmo em contextos menos favoráveis, como pandemias, inflação e guerra, a fileira do pescado em Portugal tem demonstrando uma crescente aposta pelo programa do MSC e pela preservação dos oceanos. No caso do atum, ainda estamos longe de ver essa aposta assente, mas acreditamos que juntos podemos trabalhar nesta transformação e fazer com que mais consumidores tenham à sua disposição opções como o atum MSC, de convivência e de origem sustentável.