Windhoek, Namíbia – A pescaria de arrasto e palangre de pescada na Namíbia tornou-se a primeira do país, e a segunda em África, a cumprir o padrão mundialmente reconhecido de pesca sustentável estabelecido pelo Marine Stewardship Council (MSC), uma organização ambiental sem fins lucrativos.
A certificação reconhece o progresso feito pelo governo namibiano e pela indústria pesqueira na reconstituição das unidades populacionais de pescada [1], que, no passado, foram dizimadas pela sobrepesca por parte de frotas estrangeiras [2]. Para obter a certificação do MSC, uma pescaria deve demonstrar o bom estado das populações de peixes, um impacto mínimo no ambiente e uma gestão eficaz [3].
A certificação do MSC, para além de continuar a assegurar a exportação para os mercados do sul da Europa, é uma mais valia na expansão de mercados que demandem uma origem sustentável certificada, como é o caso do norte de Europa.
O setor das pescas é o terceiro maior setor da economia na Namíbia – segmento que é constituído maioritariamente pela pescada e que emprega diretamente mais de 10.000 pessoas. A maior parte dos empregos na indústria da pescada são ocupados por mulheres, que limpam, cortam em filetes e embalam o peixe para exportação nas fábricas junto dos portos onde o peixe é desembarcado. Espera-se que a certificação do MSC ajude o setor a crescer, beneficiando a economia e as comunidades e criando mais postos de trabalho.
Dr. A Kawana, Ministro das Pescas e Recursos Marinhos, governo da Namíbia: “Como guardiães dos nossos recursos naturais, é a nossa responsabilidade gerir as pescarias na Namíbia de forma a garantir a biodiversidade e a saúde dos oceanos a longo prazo e, ao mesmo tempo, permitir que a nossa indústria pesqueira otimize o valor dos recursos para as gerações atuais e futuras, de acordo com as cláusulas do artigo 95 (I) da Constituição da Namíbia. Trabalhámos muito para reconstruir os stocks de pescada que historicamente sofriam de sobrepesca. A certificação do MSC para a pesca de pescada na Namíbia é o reconhecimento de que o nosso esforço está a resultar, e um distintivo para os distribuidores, marcas e consumidores de peixe de todo o mundo, de que a pescada-da-Namíbia é sustentável e que veio para ficar.” [4]
Peter Pahl, presidente da Associação Namibiana da Pescaria de Pescada, disse:
“A procura de pescada sustentável está a crescer, especialmente na Europa. Esta certificação do MSC ajudará o setor da pescada na Namíbia a permanecer competitivo e a satisfazer a procura nos mercados existentes, bem como a expandir-se para novos mercados onde os distribuidores e as marcas preferem abastecer-se de pescado com a certificação do MSC para corresponder às expectativas dos consumidores. Agora que conseguimos a certificação, esperamos ver os nossos números a crescer, beneficiando os namibianos, as comunidades, a economia e, claro, os oceanos.”
A Nomad Foods, proprietária das marcas Birdseye, Findus e Iglo, que se comprometeu a obter 100% do seu peixe e marisco de fontes sustentáveis até ao final de 2025, deu as boas-vindas à certificação.
Rui Braga, Diretor-Geral, Iglo Portugal:
“A pescada-da-Namíbia é uma espécie importante para o mercado português e há vários anos que apoiamos os esforços das pescarias na Namíbia no seu caminho para a certificação, porque reconhecemos o valor que o MSC tem para uma agenda mais alargada de sustentabilidade dos oceanos, bem como para os consumidores, os retalhistas e o público em geral na Europa.
Prevemos estar entre os primeiros a lançar a Pescada-da-Namíbia com certificação MSC em Portugal, através da marca Iglo, que se juntará então à nossa atual gama já certificada. Desta forma complementamos a oferta que temos à disposição dos nossos consumidores de produtos de pesca sustentável, no nosso país. Com a introdução da Pescada-da-Namíbia com certificação do MSC, mais de 95% do peixe que comercializamos a nível europeu será certificado, em linha com o nosso compromisso de alcançar os 100% até ao final de 2025 na Europa e naturalmente também em Portugal.”
A pescaria da pescada-da-Namíbia, que opera numa escala muito maior do que muitas pescarias no hemisfério sul, irá acrescentar 154 000 toneladas de pescada sustentável à cadeia de fornecimento.
Michael Marriott, Responsável do Programa MSC na África, Médio Oriente e Ásia do Sul, disse:
“As conquistas alcançadas pela pescaria da pescada na Namíbia são o exemplo perfeito da eficácia do programa do MSC em parceria com governos, cientistas e o setor para impulsionar a mudança. Cerca de 60% de todos os produtos do mar são capturados no hemisfério sul, onde são uma fonte vital de proteína. O interesse e o envolvimento no nosso programa tem crescido acentuadamente nas economias emergentes. Queremos trabalhar com mais pescarias e governos da região e esperamos que mais se sintam encorajados pelo sucesso da pescada-da-Namíbia”
A sobrepesca em África
Mais de um terço das unidades populacionais de peixes do mundo são alvo de sobrepesca. Contudo, a pesca sustentável é mais produtiva e resistente à mudança, de acordo com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. O Banco Mundial estimou [4] que a quantidade de pesca em águas africanas teria de ser reduzida em mais de 50% para se alcançar um equilíbrio que proteja tanto os recursos pesqueiros como a economia local.
O Marine Stewardship Council trabalha com pescarias de todo o mundo para combater a sobrepesca, incluindo a pescaria de pescada sul-africana, que, em 2004, se tornou a primeira pescaria em África a obter a certificação do MSC.
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Notas para os editores
[1] The State of World Fisheries and Aquaculture 2020: on recovery of Namibian hake stocks FAO SOFIA p. 52: http://www.fao.org/3/ca9229en/ca9229en.pdf
O processo de avaliação identificou 15 objetivos de melhoria sobre as unidades populacionais de pescada, capturas acessórias e gestão que a pescaria deve cumprir dentro dos próximos cinco anos, a fim de manter a sua certificação.
[2] Antes da independência da Namíbia em 1990, a pescada nas águas namibianas era extremamente sobre-explorada por frotas estrangeiras. A captura máxima anual declarada para a região atingiu o pico perto de 1 milhão de toneladas, causando a queda abrupta das suas unidades populacionais. Desde a independência, o governo e o setor namibiano têm trabalhado arduamente para combater a sobrepesca e reconstituir as populações de pescada. O atual estado das populações é saudável e a pesca é realizada a um nível sustentável.
[4] Programa de África para pescarias do Banco Mundial: “De acordo com as estimativas disponíveis [...] para África, estima-se que o esforço de pesca global teria de ser reduzido em mais de 50 por cento para atingir um equilíbrio maximizador do lucro, o que permitiria 1,9 milhões de toneladas adicionais de capturas por ano e um aumento dos lucros de 3 mil milhões de dólares em 2012 para 10,3 mil milhões de dólares anuais.”