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O envolvimento de toda a cadeia de valor da pesca do polvo é necessária para melhorar a sustentabilidade da espécie nos oceanos

Especialistas de várias áreas reuniram-se na feira de Conxemar para dialogar sobre esta emblemática espécie de pesca sustentável

Informar e sensibilizar os consumidores é fundamental para aumentar a procura de produtos sustentáveis nos seus locais habituais de compra

O evento contou com de mais de 100 participantes, inscritos presencialmente e online

Existem atualmente apenas duas pescarias de polvo certificadas pelo MSC: a pescaria de Polvo da Austrália Ocidental e a pescaria Artesanal de Polvo com Covos das Associações do Ocidente Asturiano. Para o MSC, o polvo é uma espécie estratégica, que, tal como outras espécies de cefalópodes, apresenta vários desafios para a gestão sustentável da sua captura devido à singularidade da sua biologia.

Devido à importância desta espécie, e na semana do Dia Mundial do Polvo[1], o Marine Stewardship Council Espanha e Portugal organizou, a 6 de outubro, o seu I Simpósio Internacional sobre a Pesca Sustentável do Polvo, no âmbito da feira de Conxemar, no qual participaram várias instituições e personalidades ligadas a esta espécie emblemática, nomeadamente o governo das Astúrias, cientistas independentes, ONG como a Sustainable Fisheries Partnership (SFP), representantes da pescaria de polvo do Iucatão (México) e a empresa Brasmar (Portugal).

O evento centrou-se no progresso realizado até à data pelo MSC em matéria de sustentabilidade das pescarias de polvo, incluindo reflexões sobre os desafios e as oportunidades para estas pescarias. O evento também forneceu informações sobre como os cientistas, as ONG, as administrações, as empresas e a cadeia de abastecimento de produtos do mar podem ajudar a apoiar as pescarias de polvo para satisfazer a crescente procura mundial de peixes e mariscos sustentáveis.

Camiel Derichs, diretor do programa de desenvolvimento do Marine Stewardship Council Global, deu as boas-vindas aos participantes ao evento e explicou as prioridades estratégicas da organização e o seu empenho em trabalhar em estratégias de espécies para melhorar a sustentabilidade destas espécies, incluindo o polvo.

Seguidamente, Carlos Montero, responsável sénior pelas pescarias do Marine Stewardship Council Global, explicou o trabalho do MSC na preparação para a certificação e como colaboram com as pescarias em todas estas fases, com um enfoque principal no polvo. Falou também das novas ferramentas que o MSC está a disponibilizar para as pescarias, tais como o programa In Transition to MSC  (ITM) .

Por sua vez, Rubén Roa, especialista em avaliação de unidades populacionais de peixes, afirmou que as chaves para se obter a certificação do MSC para a pesca do polvo são «uma estreita colaboração entre pescadores e gestores para que os cientistas tenham acesso a dados detalhados sobre as operações de pesca, bem como os modelos matemáticos especializados no ciclo de vida muito peculiar dos polvos.»

A segunda parte do evento consistiu num diálogo moderado por Alberto Martín, responsável sénior pelas pescarias do Marine Stewardship Council Espanha e Portugal, com a participação de Carmen González-Vallés da ONG Sustainable Fishing Partnership; Francisco González, diretor geral da pesca marítima do Governo das Astúrias; Mauricio Orellana, diretor geral de Orcas Seafood e coordenador do projeto de melhoramento da pesca do Iucatão, no México, e Graciete Machado, diretora de qualidade da Brasmar, Portugal. No diálogo, foram apresentados os diferentes pontos de vista das ONG, da administração, das empresas e das próprias pescarias sobre quais são os principais problemas de sustentabilidade que o polvo enfrenta e como resolvê-los.

Carmen González-Vallés salientou a importância de um trabalho coordenado e da participação das empresas na melhoria da sustentabilidade das pescarias de polvo, dando como exemplo as mesas redondas setoriais que a SFP organiza sobre os cefalópodes. Para González-Vallés, «a crescente procura de polvo a nível mundial e, especialmente, em novos mercados como os EUA, levou a um número cada vez maior de empresas interessadas na Global Octopus Supply Chain Roundtable (mesa redonda da cadeia de abastecimento mundial de polvo) para saber como se podem envolver em iniciativas para melhorar a pesca de polvo, onde, para além das pescarias tradicionais do noroeste de África, foram incluídas as pescarias da Indonésia e das Filipinas devido ao crescente interesse na importação destas matérias-primas.»

Por seu lado, Francisco González explicou os desafios enfrentados pela Direção-Geral das Pescas das Astúrias e comentou a importante contribuição do Centro de Experimentação Pesqueira que depende desta direção, bem como da Universidade de Oviedo, tanto nos processos de melhoria da gestão e das leis que a regulamentam, como na melhoria da ciência e da investigação necessárias para poder compreender melhor o recurso e, consequentemente, garantir uma exploração mais sustentável. «Para a Direção-Geral das Pescas do Principado das Astúrias, a certificação do MSC contribuiu para o novo conceito de gestão pesqueira que estamos a seguir na nossa Comunidade Autónoma, unindo sinergias entre todos os atores envolvidos na sustentabilidade das nossas pescarias: a administração, o setor e o mundo científico», acrescentou. 

Mauricio Orellana salientou a necessidade de cooperação de todos os intervenientes na produção de polvo para beneficiar toda a cadeia de valor da pesca sustentável da espécie, encurtando a distância entre o produtor e o consumidor final, a fim de conhecer o valor real que a sustentabilidade traz ao polvo sustentável.

Por último, Graciete Machado falou sobre como as políticas de sustentabilidade são estabelecidas na Brasmar e frisou o interesse que as empresas têm em poder abastecer-se de produtos sustentáveis para assegurar o seu fornecimento ao longo do tempo e proporcionar segurança futura para o seu projeto empresarial.

Uma das principais conclusões do evento é a necessária colaboração de todos os atores da cadeia de valor no apoio à sustentabilidade do polvo e também uma maior sensibilização e capacitação dos consumidores para que exijam produtos sustentáveis nos seus locais de compra.


[1] O Dia Mundial do Polvo celebra-se todos os anos a 8 de outubro

Informação suplementar

O polvo das Astúrias. Uma pequena pescaria com grandes conquistas.

CdI-Envolvimento da cadeia de valor do polvo
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