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Estudo mostra que «ser verde compensa»: a atribuição de ecoetiqueta aumenta o preço das ações das empresas de produtos do mar

A certificação para manusear e vender produtos do mar sustentáveis certificados faz aumentar o preço das ações das empresas e prova que «ser verde compensa», de acordo com um novo estudo publicado em Marine Resource Economics.

Um estudo independente analisou o impacto no preço das ações de uma empresa ao obter a certificação de acordo com o Padrão da Cadeia de Custódia do Marine Stewardship Council (MSC) [1]. Esta norma garante aos consumidores que os produtos do mar sustentáveis com o selo azul do MSC são rastreados e separados dos produtos do mar não certificados durante o trajeto entre a pescaria e a loja [2].

O recente aumento da procura de produtos sustentáveis e «rótulos ecológicos» por parte dos consumidores deu origem a garantias de abastecimento mais robustas, como o padrão da cadeia de custódia do MSC, líder no mercado.

A investigação conduzida pela Universidade de Cantábria, em Espanha, mostra que, em média, o preço das ações de uma empresa aumentou 2,64% após a certificação, de modo que uma empresa com um valor médio de mercado de 875,80 milhões de dólares [3] aumentou 23,12 milhões de dólares apenas 20 dias após a certificação (o equivalente a 60,89% por ano [4]). A subida foi maior nas empresas com menor rentabilidade e vendas, uma vez que os seus investidores previram que a certificação pudesse resultar num aumento de vendas e lucros.

O Dr. José L. Fernández Sánchez, coautor do artigo e professor de economia na Universidade de Cantábria, em Espanha, afirmou: «A adoção de práticas mais sustentáveis nos nossos oceanos e mares é por vezes questionada por produtores preocupados com a rentabilidade das suas empresas. Os resultados desta investigação devem ajudar a resolver a dicotomia entre economia e ambiente.

As conclusões obtidas permitem-nos afirmar que os investidores respondem positivamente a programas sustentáveis nas pescarias, o que se traduz num ganho para as empresas nos mercados financeiros. Isto confirma a nossa hipótese de que «ser verde compensa.»

Esta é a primeira vez que um estudo analisa a reação dos mercados financeiros à introdução de uma certificação que apoia a pesca sustentável.

O peixe e o marisco são também uma das matérias-primas mais comercializadas no mundo, excedendo o valor comercial combinado do açúcar, do milho e do café [5]. Em 2018, as 150 maiores empresas de produtos do mar do mundo (tanto públicas como privadas) apresentavam uma receita de cerca de 120 mil milhões de dólares [6].

A investigação analisou se as vantagens da obtenção de um «rótulo ecológico» compensavam os custos, concentrando-se na reação do mercado bolsista que se seguiu ao anúncio público das empresas de que tinham obtido a certificação segundo o padrão da cadeia de custódia do MSC.

Os investigadores compararam 58 empresas que foram certificadas segundo o padrão da cadeia de custódia do MSC entre 2006 e 2019, observando uma janela entre 0 e 20 dias após o anúncio da certificação. Em média, verificou-se uma reação positiva significativa por parte dos acionistas. O rendimento excedente positivo dos acionistas sobre o preço das ações (quando os rendimentos reais são superiores ao esperado) cresceu de 1,08% na primeira semana para 2,64% após o 20.º dia. 

À medida que a sobrepesca continua a aumentar, com mais de um terço (34%) das populações de peixes mundiais sobre-exploradas, os autores do estudo sublinharam a necessidade urgente de práticas de pesca mais sustentáveis. A ONU reconheceu que as pescarias certificadas MSC fazem parte da solução ao «melhorarem a gestão e a captura sustentáveis de peixe» e ao aumentarem com sucesso o número de pescado sustentável capturado durante a última década.

Toby Middleton, chefe de operações de mercado do MSC, afirmou: «A comunidade investidora tem cada vez mais em consideração os fatores ambientais, sociais e de governo (ESG, do inglês «environmental, social and governance») ao avaliar o valor de uma empresa ou indústria e o seu potencial para proporcionar retornos futuros.

No entanto, nem sempre é fácil encontrar formas fiáveis de avaliar o desempenho dos fatores ESG de uma empresa. Os investidores recorrem cada vez mais a avaliações imparciais, independentes e sólidas, como o Padrão de Pesca e a Cadeia de Custódia do MSC, para os ajudar a identificar empresas que são genuinamente sustentáveis e a filtrar as que não o são. Este estudo põe em evidência, tanto para as empresas de produtos do mar como para os investidores, os benefícios reais que podem advir de levar a sustentabilidade a sério.» 

À investigação soma-se o crescente conjunto de provas que mostram que as pescarias e as empresas que incorporam a sustentabilidade nas suas operações através do compromisso com o programa do MSC podem retirar benefícios diretos e tangíveis, ao mesmo tempo que contribuem para a saúde dos oceanos.

Em junho do ano passado, o MSC publicou um novo guia para investidores na indústria dos produtos do mar, para encorajar os financiadores a realizarem investimentos que promovam a rentabilidade tanto dos oceanos como das empresas. 

Referências:

  1. Para serem vendidos com o selo azul do MSC, os produtos do mar provenientes de pescarias certificadas MSC só podem ser manuseados, transformados e embalados por organizações que disponham de um certificado válido da cadeia de custódia do MSC. Estas empresas são auditadas regularmente por organismos de certificação independentes, a fim de assegurar que cumprem o padrão da cadeia de custódia do MSC.
  2. O padrão da cadeia de custódia exige que os produtos do mar com a certificação MSC sejam comprados apenas a fornecedores certificados, sejam identificáveis a todo o momento, sejam separados dos produtos do mar sem certificação do MSC e sejam vendidos com a documentação correta que os identifique como certificados. O MSC supervisiona regularmente a cadeia de abastecimento e a aplicação do padrão por parte dos auditores para garantir que os requisitos estão a ser seguidos corretamente. Por último, para vender produtos do mar certificados MSC, deve existir um acordo de licença para a atribuição do selo azul do MSC que garanta que o selo só seja utilizado em peixes e mariscos certificados que tenham sido manuseados por fornecedores com a certificação MSC.
  3. O valor médio das empresas analisadas no estudo.
  4. A taxa de rentabilidade anualizada estimada.
  5. http://marcfbellemare.com/wordpress/wp-content/uploads/2014/09/Asche-et-al.-2014.pdf
  6. https://www.intrafish.com/news/business-intelligence-report-the-worlds-150-largest-seafood-companies-now-account-for-120-billion-in-sales/2-1-655808
CdI-estudo-Universidad-Cantabria-MSC_PT
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