A pesca sustentável existe e ajuda-nos a proteger os oceanos
O filme Seaspiracy na Netflix apresenta vários problemas relacionados com os oceanos de todo o mundo, questionando a credibilidade do movimento de pesca sustentável e, em particular, a nossa organização, o Marine Stewardship Council. Concordamos que é necessário prestar mais atenção à crise da sobrepesca, no entanto, queremos esclarecer algumas afirmações enganosas presentes no filme:
"Fact check: A pesca sustentável não existe"
Esta afirmação é incorreta. Os nossos oceanos têm uma capacidade espantosa de recuperação se os stocks de peixes forem bem geridos a longo prazo. Há vários exemplos de populações de peixes à beira do colapso que recuperaram devido a uma boa gestão como é o caso da marlonga-negra da Patagónia no Oceano Antártico, ou a recuperação da pescada-da-Namíbia após anos de sobrepesca por parte de frotas estrangeiras, ou até o aumento de algumas das principais populações de atum a nível mundial. O que é ainda mais surpreendente, é que se cuidarmos dos stocks, eles também cuidaram de nós. A investigação científica demonstra que se as populações de peixes estão bem geridas e são sustentáveis, são também mais produtivas a longo prazo, o que se traduz em mais alimento disponível para uma população em crescimento, que poderá atingir as 10 mil milhões de pessoas até 2050.
"Fact Check: A certificação MSC é muito fácil e não é credível"
No MSC estamos muito orgulhosos de contribuir para a transformação das práticas de pesca e para o crescimento do movimento de pesca sustentável com a colaboraçao de muitos outros parceiros e organizações. Atualmente, existem mais de 400 pescarias com certificação MSC em todo o mundo. O processo de certificação não é realizado pelo MSC – este processo é independente à nossa organização e é realizado por entidades certificadoras acreditadas para o efeito, espacializadas em realizar estas avaliações. Trata-se de um processo completamente transparente onde as ONGs e outras partes interessadas têm várias oportunidades para contribuir e fornecer informações. Todos os relatórios de avaliação estão disponíveis na secção Track a Fishery do nosso site. Apenas as pescarias que satisfaçam os exigentes critérios do nosso Padrão podem ser certificadas. Ao contrário do que os cineastas afirmam, a certificação não é um processo fácil e algumas pescarias passam vários anos a melhorar as suas práticas para poder cumprir com o nosso padrão. De facto, a nossa análise mostra que a grande maioria das pescarias que realizam uma primeira pré-avaliação de acordo com o Padrão MSC, não satisfazem os critérios e têm de fazer melhorias significativas para obter a certificação.
"Fact Ckeck: O MSC é financiado pela indústria e não é independente"
O MSC é uma organização independente sem fins lucrativos fundada pela WWF e pela Unilever há mais de 20 anos devido à preocupação com a sobrepesca. Desde 1999 é completamente independente. Não somos uma empresa privada e não recebemos qualquer rendimento das pescarias ou das certificações realizadas por terceiros às pescarias.
O nosso rendimento provém de duas fontes: doações de fundações e licenças pela utilização do nosso selo azul, que é usado por empresas da cadeia de abastecimento, como produtores de pescado, supermercados e restaurantes para identificar o pescado com a certificação MSC. O seu uso é voluntário, e apenas uma parte do pescado proveniente de pescarias certificadas como sustentáveis apresenta o nosso selo nas embalagens dos produtos.
No MSC somos absolutamente transparentes sobre o nosso modelo de financiamento baseado no mercado. Consideramos que a procura por produtos da pesca sustentável por parte dos consumidores ajuda a promover a transformação da indústria pesqueira e incentiva a adoção de práticas de pesca sustentável. Todas as receitas das licenças são revertidas no nosso programa. Isto inclui, por exemplo, o financiamento de projetos através do nosso fundo Ocean Stewardship Fund que apoia pescarias nos países em desenvolvimento.
"Fact Check: As pescarias certificadas MSC têm níveis de bycatch inaceitáveis"
Esta afirmação é também errónea. De facto, as pescarias certificadas de acordo com o Padrão de Pesca do MSC devem fornecer provas de que estão a minimizar proactivamente as capturas acidentais (bycatch). Às pescarias que precisam de realizar melhorias nesta área podem ser estabelecidos objetivos a cumprir para manterem o seu certificado, ou correm o risco de suspensão. Acreditamos que a pescaria da Islândia mencionada no Seaspiracy enquadra-se na segunda categoria. Esta pescaria foi suspensa do programa devido a capturas acidentais elevadas e só foi autorizada a sua reentrada após ter abordado esta questão. Existem numerosos exemplos positivos de pescarias certificadas no programa do MSC que introduzem inovações para proteger a vida marinha, como por exemplo, a alteração da arte de pesca para reduzir as capturas acidentais das tartarugas ou adicionar luzes LED para aumentar a seletividade das capturas. Entre alguns progressos notáveis de pescarias com certificaçao MSC está a pescaria da lagosta-da-Austrália que reduziu a captura acidental de leões marinhos e a pescaria da pescada-do-cabo na África do Sul que reduziu em 99% as capturais acidentais de albatrozes.
A pesca sustentável ajuda-nos a proteger os oceanos e a nós mesmos
Embora discordemos da maioria das afirmações dos cineastas do Seaspiracy, estamos de acordo em que há uma crise de sobrepesca nos nossos oceanos. Não obstante, milhões de pessoas em todo o mundo dependem do pescado para as suas necessidades proteicas. Com uma população global que pode chegar as 10 mil milhões de pessoas até 2050, a necessidade de cuidar dos nossos recursos naturais de forma responsável é mais urgente do que nunca. A pesca sustentável desempenha um papel fundamental para assegurar estes recursos.
Mais informação sobre o MSC
- O nosso relatório anual: O Marine Stewardship Council destaca progressos no domínio da pesca sustentável, mas insta a que sejam redobrados esforços para dar resposta aos desafios urgentes enfrentados pelos oceanos.
- Mensagem numa garrafa: Entramos em contagem decrescente para 2030! Há cinco anos, as Nações Unidas lançaram a sua Agenda 2030 com 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que deveriam ser alcançados num prazo máximo de 10 anos.