Mais de 60 empresas e organizações portuguesas participaram no Encontro Comercial Juntos Melhor organizado pela ONG, Marine Stewardship Council (MSC), nos dias 28 e 29 de outubro. Este encontro convidou profissionais do sector da pesca para um debate sobre a sobrepesca e o seu impacto nos ecossistemas marinhos.
Esta sessão foi realizada através de um diálogo digital presidido por Laura Rodríguez, diretora do programa do MSC em Portugal e Espanha. Laura apresentou alguns dados sobre o estado das unidades populacionais de peixe a nivel mundial, indicando que uma em cada três pescarias está sobreexplorada, de acordo com o último relatório SOFIA das Nações Unidas. Também referiu que a participação de Portugal numa ação coletiva a favor da sustentabilidade dos oceanos é muito importante. O consumo de peixe é um dos mais altos da Europa, com 56,8 kg de peixe per capita. Portugal dispõe de uma frota de cerca de 8.000 embarcações, das quais 85% são artesanais, e 22 lotas de peixe fresco. Entre as capturas da frota portuguesa encontram-se espécies como o carapau, cavala, sardinha, biqueirão, polvo, peixe-espada-preto e tunídeos. Para além disso, conta também com uma importante indústria de transformação que coloca Portugal entre os 10 maiores da Europa.
Alberto Garazo, responsável comercial do MSC em Portugal e Espanha, destacou o crescimento da oferta de produtos do mar com o selo do MSC. Atualmente, contamos com 14 milhões de toneladas de peixe certificado ou em proceso de avaliação, que segundo a FAO, corresponde a 17% das capturas mundiais de peixe e marisco. A nivel global, o MSC já alcançou mais de 20.000 produtos com o selo azul, onde mais de 200 destes produtos se comercializam no mercado português. Alberto também explicou que o compromisso das empresas com o programa do MSC está a crescer em Portugal, o que se traduz numa maior visibilidade de produtos que provêm de pescarias sustentáveis.
Cátia Meira, responsável de marketing do MSC em Portugal e Espanha, apresentou o estudo de mercado sobre as percepções e atitudes do consumidor em relação aos produtos do mar, realizado pela primeira vez em Portugal pela consultora de estudos de investigação, Globescan, para o MSC. O estudo independente que inquiriu a mais de 700 consumidores portugueses, concluiu que há um mercado favorável à promoção de selos de sustentabilidade em Portugal: 66% dos consumidores portugueses afirma que estes selos aumentam a sua confiança na marca que os apresenta na sua embalagem; 54% adotou alguma medida no último ano para proteger os oceanos; e 90% dos consumidores está disposto a adotá-las no futuro. Em relação à notoriedade do MSC, 41% dos consumidores portugueses afirma que vê o selo frequentemente ou de forma ocasional quando compra peixe ou marisco.
Ondina Afonso, presidente do Clube de Produtores Continente e diretora de Qualidade e Investigação da SONAE MC, reforçou o atual compromisso do grupo em oferecer cada vez mais produtos com o selo azul do MSC aos consumidores portugueses. Destacou que para além da oferta atual, há também artigos em fase de desenvolvimento e pipeline de lançamento. Juntamente com a nutrição, saúde e equilíbrio, a sustentabilidade é um dos compromissos mais importantes da SONAE com a alimentação dos portugueses. A sustentabilidade é encarada pela SONAE nas suas três vertentes: ambiental, social e económica.
O impacto da pandemia no mercado dos produtos sustentáveis
Um dos temas que se debateu no Encontro Juntos Melhor foram os impactos da pandemia COVID-19 na indústria da pesca. Neste debate participaram Ondina Afonso da SONAE, Graciete Machado, diretora de Qualidade da Brasmar, Paulo Machado, diretor de Produção da Ramírez & Cª e Ivete Azevedo do departamento de Qualidade do grupo Rui Costa e Sousa & Irmão, S.A. O debate foi moderado por Rodrigo Sengo, Consultor do MSC em Portugal.
Graciete Machado, da Brasmar referiu que a pandemia levou a uma pressão a nivel logístico e a uma procura acelerada de produtos congelados. Também surgiram novas oportunidades de mercado com um aumento da demanda de alimentos de outras culturas e países, numa tentativa de substituição de viagens por parte de um consumidor confinado. O MSC desempenha um papel de diferenciação muito importante para a Brasmar, já que com o grande aumento do comércio online, a sustentabilidade é agora, uma informação muito procurada nos canais digitais.
Paulo Machado, da Ramírez & Cª, afirmou que tiveram um aumento de produção na ordem dos 100% durante os meses de confinamento. Apenas puderam dar uma resposta rápida porque se anticiparam e criaram um stock de produtos. Consideram que o MSC está presente no ADN da sua marca e que oferece uma vantagem competitiva no mercado.
Segundo Ivete Azevedo do Grupo Rui Costa e Sousa & Irmão, S.A, a pandemia trouxe uma quebra muito importante nas vendas no canal HORECA. No entanto, as suas empresas na Noruega não se viram afetados pela pandemia, uma vez que os barcos puderam continuar a captura de bacalhau.
A sustentabilidade das pescarias que participam no programa MSC
O papel das pescarias a favor da sustentabilidade também foi abordado no Encontro Juntos Melhor. Alberto Martín, responsável de pescarias do MSC em Portugal e Espanha destacou o importante trabalho que desenvolve o MSC com as organizações de pesca antes da sua certificação, facilitando a realização de diagnósticos e pré-avaliações, planos de ação e implementação de melhorias, a fim de melhorar as práticas pesqueiras nos oceanos, incluindo as pescarias que ainda estão longe de atingir o nivel que de sustentabilidade que o padrão do MSC estabelece. Atualmente o MSC conta com 409 pescarias certificadas e 89 em avaliação. O seu trabalho não termina com a certificação, a maioria tem que realizar melhorias. Nos últimos três anos registaram-se 72 melhorias em ecossistemas e habitats, 126 melhorias relacionadas com espécies em perigo e de captura acidental, 75 melhorias em gestão, governo e políticas pesqueiras e 111 melhorias no estado das populações e na estratégia de capturas.
Rodrigo Sengo, consultor do MSC em Portugal, explicou o trabalho do MSC com os projetos Pathway onde participam várias pescarias que não estão certificadas, a fim de melhorar a sua sustentabilidade e facilitar o acesso ao programa do MSC. Atualmente, o MSC já desenvolveu 19 projetos Pathway com 164 pescarias onde 49 delas têm planos de ação definidos e 28 já implementaram melhorias. Como exemplo, Rodrigo Sengo apresentou o projeto Medfish, um projeto estabelecido para avaliar a sustentabilidade das pescarias do Mar Mediterrêaneo.
Por fim, Ernesto Jardim, diretor do Departamento de Standards de Pescarias do MSC, concluiu este encontro Juntos Melhor com uma apresentação sobre o estado mundial da pesca e da aquicultura, referindo um aumento continuo da sobreexploração das populações de peixe a nivel mundial. Recordou a importância da contribuição do MSC para a proteção dos recursos marinhos através dos seus padrões de sustentabilidade que reconhecem as boas práticas na exploração, distribuição e gestão dos produtos do mar, e da participação de todos os seus sócios que em conjunto trabalham para um futuro cheio de peixes para as próximas gerações. Juntos Melhor.